Fatal Frame III

Até onde a culpa pode levar alguém ? Até onde ela pode tirar o sentido da sua vida e por o peso de uma tragédia em você ? Sobreviver a um acidente pode ser pior do que ser vítima dele ? Fatal Frame III – The Tormented mostra como a culpa pode afetar alguém de uma forma tão negativa que sobreviver a um evento catastrófico pode ser pior do que morrer.

Lançado para Playstation 2 em 28 de Julho de 2005 no Japão e 5 de Novembro do mesmo ano na América do Norte e em 24 de Fevereiro de 2006 na Europa, Fatal Frame III é a sequencia direta dos eventos do primeiro e segundo jogos. Apresentando novos personagens e trazendo alguns de volta, o terceiro capítulo na série de survivor horror que envolve exorcismos com câmeras fotográficas traz algumas mudanças ao enredo e novos atrativos para fãs da série.

Aviso: como os outros dois artigos sobre a série Fatal Frame, o texto a seguir pode afetar pessoas sensíveis por conter descrições de práticas pesadas. Os detalhes não serão tão visuais mas a mera descrição, mesmo que alterada para aliviar as situações descritas, pode incomodar algumas pessoas.

Como o mundo funciona e o que causa o novo pesadelo(literalmente)

Diferentemente dos jogos anteriores, os eventos que levam ao começo de Fatal Frame III são desencadeados por uma razão bem mundana: a culpa. Mais especificamente a culpa por ser o ou a única sobrevivente de um acidente ou evento trágico. Existe um ritual envolvido, afinal estamos falando de Fatal Frame, mas os personagens agora não são pegos em uma casa assombrada ou encontram uma vila perdida, eles apenas dormem. Pode não fazer muito sentido agora mas as próximas linhas vão ajudar a esclarecer as coisas.

The Tormented nos apresenta inicialmente Rei Kurosawa, uma fotógrafa que recentemente sobreviveu a um acidente de trânsito que custou a vida de seu noivo, Yuu Asou. Rei nunca se recuperou totalmente do acidente, sendo consumida pela culpa de ter sobrevivido sozinha ao evento e não sendo capaz de seguir sua própria vida.

Após retornar ao trabalho, Rei visita uma casa tida como assombrada e acaba encontrando o fantasma de seu noivo, Yuu. Ao seguir a aparição, Rei é transportada para a Mansão do Sono (Manor of Sleep, no jogo) e acaba caindo em uma maldição. A maldição em questão é alimentada pela culpa que Rei sente pelo acidente que matou Yuu e, assim como ela, várias pessoas que passaram por situações semelhantes sofrem do mesmo mal. Ainda dentro da Mansão, Rei é marcada por um fantasma coberto por uma tatuagem azul e passa a visitar o lugar sempre que dorme. A partir deste ponto o jogo realmente começa.

Diferentemente dos jogos anteriores, nossa protagonista não é a única que acaba presa em um pesadelo que pode ser fatal. Durante o curso do jogo vários documentos e gravações de áudio relatam eventos estranhos que acabam levando ao desaparecimento de sobreviventes de grandes acidentes e ninguém sabe explicar o motivo. Tudo o que se sabe é que os desaparecidos sempre relatam o mesmo sonho, de estarem seguindo entes queridos que faleceram em acidentes para dentro de uma enorme mansão e que, a cada dia que passa, mais e mais sono os desaparecidos sentem até que eventualmente entram em coma e desaparecem, deixando apenas uma marca carbonizada na cama onde estavam.

O ritual e a maldição da tatuagem

O ritual aqui, apesar de ser algo ainda pesado, se for considerado sozinho, não chega a ser tão chocante quando os anteriores. O que realmente torna a coisa mais brutal é o que acontece quando o menor sinal de falha aparece. Chamado de Piercing of the Soul, o ritual consiste em tatuar o corpo de uma sacerdotisa adotada ou pertencente a família Kuze com uma tatuagem feita com a tinta que contem o sangue dos vivos e dos mortos (Ink of the Soul). O propósito da tatuagem é fazer com que a sacerdotisa absorva a dor e sofrimento dos que visitam o santuário da família Kuze e que querem se livrar do peso emocional. Olhando por esse lado, ter uma pessoa que é capaz de tirar um peso de quem está sofrendo é até uma coisa boa. O problema é que fazer isso deixa a sacerdotisa em um estado de dor perpétua. Quanto mais ela absorve das outras pessoas, mais a tatuagem cresce e mais dor é sentida.

Após o primeiro passo, a sacerdotisa deve abandonar suas emoções, para que rompa qualquer ligação com o mundo terreno e seja capaz de se purificar. Isso é feito concentrando todas as emoções em um espelho que, em seguida, é quebrado. Tudo correndo “bem” a sacerdotisa é colocada em um estado de sono eterno e tem suas extremidades perfuradas com estacas para que fique para sempre dentro do santuário guardando algo chamado no jogo de The Rift, seria a fronteira entre o mundo dos vivos e dos mortos. O objetivo é evitar que a passagem se abra e todo o sofrimento que ela contem seja espalhado pelo mundo.

O problema começa quando a escolhida para passar pelo ritual, Reika Yukishiro, não consegue abandonar os sentimentos por Kaname Ototsuki o que faz com que ela não consiga ser colocada em sono eterno. Ou seja, Reika está consciente enquanto a tatuagem a deixa em dor perpétua. Kaname, com a ajuda de uma ajudante do templo, consegue encontrar Reika mas é morto pela Chefe da família Kuze na frente de Reika, o que só piora o estado que ela estava. Reika perde o controle das emoções e da dor que absorveu de outras pessoas e para evitar o pior (se é que tem como piorar) a família Kuze sacrifica os seguidores do templo para prender a mansão Kuze e o santuário em um mundo de sonhos. Como o ritual não foi devidamente feito é criada uma maldição que afeta pessoas que se culpam por terem sido as únicas a sobreviverem a acidentes que causaram a morte de entes queridos. A culpa prende a pessoa na mansão até eventualmente consumi-la.

Uma das vítimas da maldição encontradas durante o jogo. Créditos: Moby Games.

Personagens

Fatal Frame III nos apresenta um grupo de três personagens jogáveis que são alternados em momentos diferentes do jogo. Cada personagem tem habilidades e jogabilidades diferentes porém complementares em certos pontos. Cada um deles cria condições para que a jornada do próximo possa ser seguida sem maiores dificuldades, além de ajudar Rei a entender melhor o que está acontecendo.

Devido ao grande número de personagens, jogáveis e não jogáveis, os explicados a seguir são apenas os mais importantes para situar melhor o leitor.

  • Rei Kurosawa

Primeira a ser apresentada ao jogador quando o jogo começa. Rei é uma fotógrafa profissional que perdeu o noivo, Yuu, em um acidente de carro causado por ela mesma. Desde então ela se sente culpada por sobreviver e parou quase que completamente a própria vida. Apesar de ter voltado a trabalhar, ela é incapaz de se livrar das cosias de Yuu e seguir em frente. Uma rápida olhada pela casa de Rei mostra que até mesmo o quarto de Yuu está do mesmo modo que ele deixou antes do acidente. A culpa que Rei sente é o que a prende na maldição da Mansão do Sono.

Estágio inicial da maldição em Rei. Créditos: Moby Games.
  • Miku Hinasaki

Miku é a sobrevivente dos eventos do primeiro Fatal Frame e segunda personagem jogável do game. Miku trabalha como assistente de Rei e as duas passam a morar juntas após um certo tempo. Assim como Rei, Miku ainda se culpa pela forma como os eventos do primeiro game se desenvolveram e nunca conseguiu se perdoar pelo destino do irmão, Mafuyu, o que acaba por fazer com que ela também caia na maldição.

  • Kei Akamura

Kei é tio da irmãs Mayu e Mio, do jogo anterior, e amigo de Yuu. É tambem o terceiro e último personagem jogável. Os eventos do segundo Fatal Frame fizeram com que Mio também se tornasse vítima da maldição. Kei ficou preocupado com o estado da jovem e começou a investigar o que ela relatava nos sonhos. Eventualmente ele mesmo foi atraído pela mansão, assim como Mio, ao começar a ver Mayu em seus sonhos. O interessante no caso de Kei é o fato de ele já estar investigando a mansão enquanto Yuu ainda estava vivo, o que leva a concluir que Mio foi a primeira personagem do novo grupo a ser vítima da maldição.

Rei, Kei e Miku. Créditos: Moby Games.

Combate

O combate em The Tormented segue a mesma lógica dos anteriores mas com uma pequena diferença. O básico ainda é o mesmo, o jogador usa a câmera obscura para exorcizar os espíritos e pode melhora-la com funções adicionais e pontos obtidos após cada luta. O diferente agora é o fato de cada personagem ter uma câmera com habilidades únicas e níveis de poder diferentes.

Rei consegue usar todas as funções já comuns aos jogos anteriores. Pode armazenar mais poder para as fotos, aumentar o alcance da câmera, deixar os espíritos mais lentos e causar mais danos. Como habilidade única ela pode usar o flash da câmera para atordoar inimigos mais próximos ou se livrar de ataques. A habilidade tem um certo número de usos mas pode ser melhorada com pontos.

Miku tem duas habilidades únicas: pode user um segundo nível de carga de poder, o que causa ainda mais dano aos inimigos e consegue usar um tipo de amuleto que reduz a velocidade dos inimigos ao seu redor, o que é extremamente útil contra espíritos mais velozes.

Kei tem a câmera mais fraca entre o trio protagonista, mesmo que o jogador consiga todos os upgrades disponpiveis. Isso se deve ao fato de Kei não ter uma lado espiritual muito desenvolvido. Sendo o mais fraco do trio, Kei deve evitar combates em certas situações e apenas se esconder e esperar que os inimigos desapareçam. Pode ser um pouco entediante jogar com Kei mas ele é o único que consegue chegar em lugares mais complicados já que pode mover obstáculos mais pesados e saltar grandes distancias.

O mundo dos sonhos e o mundo real

Fatal Frame III faz uso da transição de mundos para explicar os eventos que narra. O jogador tem dois mundos para explorar: a mansão e a casa de Rei. Na mansão, visitada sempre que Rei dorme, o jogador enfrenta os espíritos e descobre pistas que podem ajudar a desvendar o mistério dos desaparecimentos, além de eventualmente encontrar outras vítimas já consumidas pela maldição.

Já na casa de Rei, que pode ser livremente explorada, é onde é possível analisar as pistas encontradas nos sonhos. Em certas partes do game, o jogador fotografa localidades da mansão e o filme contendo as imagens aparece no quarto de Rei. Ao revelá-los, o jogador descobre mais e mais sobre outras vítimas e sobre a maldição. O interessante é que é possível interagir com Miku durante o período em que Rei está acordada, já que elas moram juntas, e dar tarefas de pesquisa para ela. Miku se mostra uma verdadeira assistente quando o assunto é decifrar os mistérios da mansão. Uma pena que, por alguma razão, não existem legendas em algumas interações e a voz de Miku é muito baixa. Nada que comprometa o jogo ou a narrativa mas seria legal saber o que ela fala em alguns pontos, mesmo que não tenha importância para os eventos do jogo.

Conforme o jogo avança e Rei sucumbe mais e mais ao chamado da mansão, eventos estranhos vão acontecendo no mundo real. Aparições pela casa, objetos se movendo e Miku se perdendo cada vez mais nos sonhos vão ficando mais frequentes. É uma ótima maneira de deixar o jogador um pouco desconfortável e apreensivo ao andar pela casa.

Conclusão

Fatal Frame III – The Tormented é uma experiência um pouco diferente dos anteriores. Ser capaz de explorar dois mundos e ver as interações ente eles, dentro das limitações do jogo/geração em que foi lançado, é um detalhe interessante e que ajuda a manter a sensação de novidade em um game que apresenta uma fórmula de combate parecida entre os jogos da série mas a troca de personagens parece que não foi muito bem balanceada, o que faz com que o jogo pareça muito mais longo do que realmente é.

O fator “andar em círculos” pode ser mais comum aqui também devido ao tamanho da Manor of Sleep e o fato de alguns corredores serem muito semelhantes. Não existe tanta variação de ambiente quanto o segundo game apresentou.

Visualmente o game continua mostrando melhorias em relação aos anteriores, tendo personagens e cenários bem mais polidos e detalhados. Até mesmo os inimigos receberam mais atenção, apesar de, novamente, não serem tão estranhos/deformados quanto os do primeiro.

The tormented tem alguns poucos problemas de ritmo devido a troca de personagens mas apresenta um mundo mais interessante já que abre a possibilidade de qualquer pessoa ser pega pela maldição. O game foi novamente recebido de forma positiva pela crítica e ocupou boas posições em rankings de jogos mais vendidos. Curiosamente o terceiro capítulo teve uma versão para Xbox anunciada mas nunca lançada, o que faz de The Tormented um título exclusivo para o Playstation 2, diferente dos dois anteriores.

E, seguindo a tradição dos anteriores, terminar o game uma vez não quer dizer que o jogador viu tudo que o game pode oferecer. Existem finais diferentes para serem desbloqueados conforme a dificuldade em que o jogo é terminado, roupas adicionais para os personagens, mais funções para a câmera e um modo de missões extras.

Isso conclui nossa pequena passada pela trilogia original Fatal Frame. Esperamos que nossos três artigos tenham inspirado mais jogadores a conhecer essa serie de survivor horror incrível e a buscar mais jóias antigas do mundo dos games.

Fontes

Documentos encontrados no jogo;

Página do game na wikipedia;

Página da Wiki do game;

Fontes das imagens usadas no artigo:

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