Survivor horror lançado em 2002 no Japão e no ano seguinte nos Estados Unidos, Clock Tower 3 é o quarto game da série Clock Tower mas não tem ligação direta com os outros títulos, funcionando como um game independente.
Desenvolvimento e recepção
Clock Tower 3 foi desenvolvido em conjunto pela Capcom, mais especificamente Capcom Production Studio 3 e Sunspot. O lançamento oficial no Japão ocorreu 12 de Dezembro de 2002, sendo lançado no ano seguinte nos Estados Unidos e Europa em 18 de Março e 25 de Junho respectivamente.
É o primeiro game da série a sair do estilo point and click e adotar uma formula mais tradicional de jogo, com o jogador sendo capaz de andar livremente pelo cenário e interagir com elementos para progredir a narrativa ou aprender mais sobre o lugar em que se encontra. Para a época em que foi lançado, 2002 – 2003, o game foi elogiado por sua apresentação visual e pela qualidade das cutscenes, dirigidas pelo diretor de filmes Kinji Fukasatsu.
Apesar dos elogios que recebeu, Clock Tower 3 foi considerado uma falha comercial, vendendo bem abaixo do esperado pela Capcom. A projeção de vendas estava na casa das 450 mil unidades mas até o final de 2002 apenas cerca de 78 mil unidades foram vendidas. Parte do criticismo que o game recebeu se deve a dificuldade. Alyssa, protagonista, não tem formas de lutar contra os oponentes, tendo que correr e se esconder por boa parte do game. Até mesmo na hora de finamente lutar o jogo não ajuda muito, os controles pesados deixam o jogador sempre em desvantagem.
Enredo
Clock Tower tem como foco Alyssa, uma jovem que está na véspera de completar 15 anos. Alyssa é o que se conhece como Rooder, uma guerreira parte de uma ordem sagrada em que mulheres adquirem poderes especiais ao completar 15 anos mas que gradualmente os perde até finalmente atingir 20 anos, passando a ser uma pessoa normal. As Rooders são responsáveis por enfrentar seres sobrenaturais chamados de Entidades. As entidades, por sua vez, são espíritos que influenciam humanos a cometerem atos de violência, tornando-os em Subordinados.
Alyssa começa a descobrir a verdade sobre si mesma após receber uma carta da mãe, alertando-a sobre o perigo que a jovem corre durante seu aniversário de 15 anos, sugerindo que ela se esconda até o dia passar. Contrariando as instruções, Alyssa volta para casa e é recebida por um homem que diz que a jovem agora está sozinha, desaparecendo em seguida. Enquanto busca por respostas, a jovem Rooder é forçada a enfrentar Subordinados em diferentes períodos da história, pouco a pouco aprendendo sobre sua linhagem e os terríveis atos cometidos com outras jovens que caíram em batalha.
O que exatamente é uma Rooder
Segundo documentos encontrados durante o jogo, Rooders são guerreiras responsáveis por lutar contra Subordinados que por sua vez são entidades criadas quando um humano, sob influencia de espíritos malignos, cometem atos de violência contra outros humanos, tirando-lhes a vida. Cada nova vítima fortalece mais o Subordinado e, para deixar as coisas ainda piores, eles não podem ser eliminados de forma convencional, cabendo a tarefa às Rooders.
A linhagem de guerreias sempre existiu, estando presa a um conflito eterno contra os Subordinados. Apesar da importante tarefa, nem todas as mulheres que carregam o sangue Rooder se tornam guerreiras. A manifestação dos poderes pula sempre uma geração, o que foi o caso de Nancy, mãe de Alyssa. Mesmo sendo poderosas algo terrível pode ocorrer com jovens Rooders que acabaram de manifestar seus poderes, algo que a própria Alyssa pode ser vitima se não tomar cuidado.
Chamado de Ritual of Engagement, algo como “Ritual de Noivado” em tradução literal, o processo é usado para criar uma nova Entidade. O ritual consiste em sacrificar uma Rooder no auge de seus poderes, consumindo seu coração/sangue. Como se o ato já não fosse horrível por si só, bastando lembrar da idade das jovens, o ritual deve ser feito por alguém da mesma família.
O survivor horror de Clock Tower 3
O termo “survivor horror” é usado para descrever games que colocam o jogador em situações em que ele está em desvantagem e deve enfrentar inimigos perturbadores, sejam monstros, fantasmas, criaturas sobrenaturais ou fantásticas ou mesmo outros humanos. Games como Resident Evil, Silent Hill e Fatal Frame, agora com o relançamento de Maiden of Black Water, são bons exemplos do gênero.
Clock Tower 3, apesar de se encaixar bem na categoria e ser definido como um, tem um abordagem um pouco diferente se comparado com outros games pertencentes ao mesmo grupo. O game tem cenas bastante perturbadoras, em especial as introduções de dois chefes, The Sledgehammer e The Corroder, e Alyssa é constantemente perseguida por inimigos muito mais fortes que ela e não tem como lutar contra eles de forma efetiva, apenas como repeli-los de forma temporária mas algo minimamente estranho acontece que pode quebrar o clima para alguns.
Alyssa é perseguida por boa parte dos cenários do game até que finalmente é obrigada a lutar contra o Subordinado introduzido no começo do capítulo. A luta começa com Alyssa empunhando um arco longo mas a cena em que a arma aparece é bastante similar ao que se espera de animes no estilo Mahou Shoujo (imagine algo como Sailor Moon). A cena é capaz de pegar o jogador desprevenido e deixa o clima do game um pouco mais leve, o que foi criticado por alguns após o lançamento.
Clock Tower 3 ainda consegue deixar o jogador desconfortável com o que apresenta e com o nível de crueldade de alguns personagens mesmo sem usar elementos muito gráficos, com exceção dos dois chefes citados acima, mas a cena que abre a luta com cada Subordinado é um tanto quando…fora de lugar para o gênero.
Combate e exploração
O game funciona basicamente de duas formas: exploração, em que o combate é extremamente limitado e o embate final com um dos Subordinanos.
Durante a exploração, Alyssa percorre ambientes em diferentes períodos históricos, mais exatamente Londres em 1942 e 1963. Durante as explorações, a jovem Rooder deve resolver pequenos enigmas para conseguir avançar na narrativa e aprender mais sobre sua própria linhagem. Durante esta primeira parte Alyssa encontrará espíritos de pessoas que morreram ainda com alguma pendencia em vida, o que fez com que eles se tornassem espíritos violentos. A jovem pode “curar” tais espíritos ao devolver um item pessoal para eles ou resolver a pendencia que eles tinham.
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Ainda na primeira parte existem os espíritos da últimas vítimas dos Subordinados. Este segundo grupo está em uma situação um pouco pior já que revive sempre os últimos instantes de vida nas mãos dos assassinos e acredite, alguns deles são bem pesados. Alyssa pode cura-los também, libertando-os do sofrimento mas deve derrotar o Subordinado que os matou, o que leva para a segunda parte do game, o combate propriamente dito.
Alyssa ganha um arco longo quando a pequena garrafa de água benta que a personagem carrega se transforma, capaz de disparar flechas de energia ou flechas especiais encontradas durante a parte de exploração. A partir daqui dois caminhos são possíveis: usar disparos mais fracos para lentamente esgotar o HP do chefe ou disparos concentrados, capazes de prender o inimigo no lugar e eventualmente usar um golpe especial capaz de eliminar alguns chefes rapidamente.
O problema com a segunda estratégia e até mesmo com a primeira são os controles e a falta de agilidade de Alyssa. Todos os chefes são muito mais velozes do que a personagem, sendo difícil encontrar uma posição segura para usar o arco. O tempo de carregamento dos disparos do arco também é problemático, considerando o outro problema citado anteriormente. Disparar uma flecha com o mínimo de força deixa Alyssa muito vulnerável, o ideal é tentar usar algum obstaculo no cenário para prender o chefe em algum loop de movimento, o que pode ser facilmente feito na última luta.
Flechas especiais podem ajudar a reduzir um pouco a dificuldade mas elas são encontradas em poucas quantidades e melhor usadas apenas na última luta do game já que a arena usada no embate é pequena e o chefe, além de ótimos golpes, tem um golpe especial que pode eliminar Alyssa instantaneamente.
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Conslusão
Clock Tower 3 é um survivor horror com uma pegada um tanto quanto interessante no gênero mas que comete alguns erros ao não balancear corretamente Alyssa em relação aos inimigos. A ideia de viajar por diferentes épocas, saindo de Londres em 2003 e indo até 1942, vendo a cidade ser bombardeada durante a Segunda Guerra e depois para os anos 60 onde um assassino corre solto pelas ruas é interessante mas a curta duração do game não trabalha bem a própria proposta.
A dublagem deixa a desejar em algumas partes. Falta emoção em alguns diálogos, especialmente durante a primeira interação entre Alyssa e Dennis, vizinho e amigo de infância da garota. O próprio Dennis parece um personagem um pouco solto em toda a trama do game, não tendo uma utilidade real até os momentos finais do game, salvando Alyssa durante o último confronto.
Combate é problemático, com controles pesados e não dando uma real segurança ao jogador quando finalmente é forçado a lutar contra os Subordinados. Apesar de ser um survivor horror e ter que limitar o personagem para não quebrar a imersão e facilitar de mais o trabalho, algo poderia ser feito para suavizar um pouco a reação de Alyssa na hora dos combates. Levando em conta que ela não exita na hora de ter que enfrentar os oponentes e é bastante corajosa, um leve ajuste seria bem vindo.
A presentação visual do game é bonita, com cenários bem construídos e grandes ou corredores apertados de um hospital em ruínas até a torre em que o final do game acontece. Existe uma certa suavidade durante as cutscenes do game que é capaz de deixar as introduções dos Subordinados, em especial os dois primeiros, ainda mais assustadoras e perturbadoras. As animações pré-renderizadas usadas em algumas partes também são bonitas, mesmo para um game lançado em 2002.
Clock Tower 3 é uma experiencia diferente dos games do mesmo gênero que infelizmente não oferece muitos atrativos ao ser concluída. Existe um modo Teatro, em que é possível ver as animações do jogo e algumas artes conceituais e roupas adicionais para Alyssa ao se iniciar um novo jogo e nada mais. Pode ser um game interessante para alguns mas nem todos vão achar uma experiencia satisfatória.